MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA NOVA MUSEOLOGIA (MINOM)
Nota de pesar pela destruição do Museu Nacional. Luto aqui é verbo!
No último dia 2 de setembro o fogo consumiu o Museu Nacional, destruindo pesquisas científicas, patrimônios milenares da humanidade, parte da história brasileira, bibliotecas, arquivos, acervos extraordinários de povos indígenas e de ancestralidades africanas, além de espécimes singulares da biodiversidade brasileira. Nas ruínas do Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, perderam-se referências culturais de povos que já haviam sido dizimados e vozes de línguas indígenas que só existiam nos registros dessa Instituição. O trabalho de gerações de brasileiros e estrangeiros, suas obras, seus testemunhos de vidas e resistências, já não existem. Animais extintos, que só podiam ser conhecidos no Museu, não mais serão vistos e não servirão mais de alerta para os processos de destruição que precisam ser paralisados.
O Museu Nacional contrariava a lógica dominante e ousava produzir ciência e educação de alto nível, pública, gratuita, de qualidade e sem fins lucrativos, ainda que sob condições nada favoráveis. O Museu Nacional era um museu popular e carinhosamente era abraçado pelos brasileiros, particularmente pelos moradores da cidade do Rio de Janeiro e especialmente pelos moradores dos subúrbios das zonas norte e oeste desta cidade, incluindo aí os mais pobres. O Museu Nacional foi vítima do descaso, da incúria de sucessivos governos, dos cortes e contenções de verbas e do desprezo que as autoridades e as elites brasileiras sempre votaram à cultura, à história e à ciência. Foi vítima da descontinuidade das políticas públicas de cultura, patrimônio, memória e museus implementadas a partir de 2003, na gestão do Ministro Gilberto Gil.
O MINOM se solidariza com a direção do Museu Nacional e com todos os servidores públicos – professores, técnicos, gestores, museólogos e educadores – como também com os trabalhadores terceirizados e estudantes que sempre atuaram, ainda que em condições adversas, visando oferecer o melhor para o Museu e o melhor Museu para o povo do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo. Muitos dedicaram-se ao Museu Nacional e viram desaparecer em uma noite o trabalho de uma vida. Sabemos que a destruição deixou em choque o mundo inteiro, mas queremos nos solidarizar principalmente com a comunidade do Rio de Janeiro, que perdeu um espaço democrático e emblemático de lazer, ciência, cultura e educação, onde memórias e afetos foram construídos e passados de geração em geração. O trabalho realizado pelo Museu Nacional em seus duzentos anos não foi em vão; permanecerá vivo na memória de todos os que fizeram dele o seu bem querido Museu.
Rio de Janeiro, 07 de setembro de 2018.
Mario Chagas, Mario Moutinho, Marcelle Pereira, Pedro Leite, Claudia Storino, Tamara Glass, Robert Heslip, Michelle Stefano.