A África que conhecemos ou que ouvimos falar é hoje uma narrativa criada no nosso passado colonial, entretanto temperada como outras narrativas construídas nestes últimos de tempos pós-coloniais. Neste nosso olhar sobre um continente, confrontamo-nos hoje com as narrativas dos vário pensadores africanos. Pensadores que pensam a partir de África (dos seus lugares de cultura) e da diáspora africana. Acrescentemos ainda os pensadores que pensam África e as suas heranças a parti de outras latitudes, sobretudo americanas (do norte e do sul) e temos uma multiplicidade de narrativa e interlocutores.
Não é fácil manter um diálogo crítico com essa longa história onde diferentes matrizes de imaginários se confrontam. Não tenhamos ilusões sobre as diferenças entre pensar África a partir do Continente europeu ou do continente americano. Para além dessas experiencias há hoje uma experiencia própria africana de se pensar a partir das suas realidades
Por exemplo, quando lemos a apologia do “umbutu” como uma filosofia africana, raramente temos consciência que essa formalização não passa duma apropriação identitária executada pelo protestantismo cristão para integração das diferenças. Isso não explica a história mas ajuda a entender como as diferenças entre olhares são construídas. (Veja-se Macamo, Elísio (1999). Was ist Afrika? Geschichte und Kultursoziologie eine moderne Konstruktion “)
Quando falamos da decolonização dos museus, estamos a falar da inclusão da pluralidade de narrativas. De narrativas que retratem s diferenças. Ora nessa museologia decolonial as narrativas cronológicas tem que ser sujeitas a uma reflexão crítica. Isto é a uma reflexão a partir dos diversos pontos de vistas sobre a construção da colonialidade.
Por exemplo, o que foi a gesta heroica dos navegadores portugueses (mais propriamente ao serviço da corte joanina e manuelina), mesmo com o chamado contributo da ciência, tem, do outro lado, dos povos que sofreram a dominação colonial, uma leitura nada heroica, sendo pelo contrário de sofrimento e violência. Ou seja, manter as narrativas numa base cronológica conduz as narrativas para tensões e confrontos que são difíceis de resolver a contento de todos.
Para este tipo de narrativas, sobre relações entre culturas e sobre a diversidade será preferível adotar um outro ponto de escrita ou uma linha narrativa que trabalha sobre a sincronia, que procure ultrapassar a culpa e o perdão que as narrativas fundadas sobre a memória e o esquecimento implicam, recriando novos modos de sociabilidade fundados no respeito da dignidade das diferentes formas culturais.
É isso que se pretende com o Dia mundial para a Diversidade Cultural e o Desenvolvimento que amanhã se celebra. O que nos leva mais uma vez à questão da museologia em África. Sobretudo a museologia de língua portuguesa em contexto africano onde, apesar dos vários desenvolvimentos que tiveram durante a última década, permanece uma museologia que tem dado um muito fraco contributo para a valorização da experiencia museológica das comunidades africanas, dos e dos territórios onde se inserem.
A questão que deveríamos então colocar é saber como será possível desenvolver uma museologia inclusiva para a diversidade em África através duma narrativa em língua portuguesa em diálogo com as culturas locais.
Pois o tal desafio do Dia mundial da Diversidade Cultural para o Dialogo e desenvolvimento ( World Day for Cultural Diversity for Dialogue and Development (21 DE MAIO) https://en.unesco.org/commemorations/culturaldiversityday aponta-se como mais um ocasião para promover a cultura e destacar a importância de sua diversidade como agente de inclusão e mudança positiva.
Procura celebrar as múltiplas formas da cultura, das tangíveis e intangíveis, às indústrias criativas, a diversidade de expressões culturais e refletir sobre como elas contribuem para o diálogo, a compreensão mútua e os vetores sociais, ambientais e económicos de sustentabilidade. Aqui a palavra-chave é mudança ativa e não observação contemplativa de narrativas do passado.