A discussão sobre o que é um museu é uma discussão em tudo idêntica à discussão sobre o Sexo dos Anjos que aconteceu em Constantinopla o século XV, enquanto os turcos se assediavam as porta da cidade do Bósforo.
Nos últimos dias de junho, a comunidade museológica foi abalada por uma sucessivas vagas de demissões nas estruturas diretivas do ICOM. Entre saudações, lamentos e aplausos, fomos sabendo que em 21 de junho a Presidente Suay Aksoy, eleita no ano passado em Kyoto se havia demitido, apresentando razões pessoais.
Sabemos agora que antes desta demissão já Léontine -van Mensch se havia demitido, à qual se sucederam as demissões de Jette Sandahl presidente do Comité permanente do ICOM para a definição de museu, perspetivas e potencialidades, juntamente com outros membros dessa comissão.
Para que não tem acompanhado o debate, em 2016, na Conferencias Internacional de Milão, foi criada uma Comissão para discutir o conceito de Museu, presidida por Jette Sendall, que no ano passado presentou esse debate nas Conferencias de Primavera do ICOM nacional.( https://icom-portugal.org/2019/02/). Na sequencia desses debates, o tema foi apresentado na Conferencia Internacional que se realizou em Kyoto (setembro 2019), onde se levantaram muitas vozes de contestação em relação à proposta. Foi então criada uma segunda comissão, mais alargada, com a missão de encontrar um consenso entre os “conservadores” (partidários duma visão redutora da instituição museu), e os “liberais” (partidários duma nova definição).
Entre nós o debate prosseguiu no passado outono (https://icom-portugal.org/2019/10/16/encontros-de-outono-2019-icom-portugal/).
Tive a oportunidade de escrever noutro lugar que esta era uma discussão inútil. Não porque discutir seja inútil, mas pela simples evidência que se não vemos ninguém a discutir o que é uma Instituição Social (uma Biblioteca, um Hospital ou um Centro de Saúde, ou uma Escola) porque razão haveremos que perder tempo a discutir o que deve ser o museu, ou um centro cultural, uma galeria de colecionismo, um centro de ciência viva, um museu digital.
O relevante não será discutir os processos ?
Nesta caso do ICOM Internacional, sem que ninguém explicite as razões, não será difícil de intuir que a feroz luta pelo poder sobre a memória está no centro desta polémica. Talvez a compreensão desta questão seja útil para o futuro.
As elites não cedem facilmente dos seus lugares privilegiados de regular a memória coletiva! O poder atribuído aos anjos de mediar a relação entre o povo e o divino.
Mais um anjo caído! Esperamos agora o coro dos lamentos das carpideira e dos profetas da terra.