O fenómeno cultural, tal como hoje o delimitamos, é indubitavelmente um fenómeno europeu. Por essa razão é estranha a ausência de referências, até ao momento, sobre à dimensão cultural nos programas de preparação dos encontros sobre a “dimensão social da Europa, que ao que tudo indica se concretizará em maio no Porto.
Da parte dos atores governamentais, sempre com as agendas preenchidas, á natural que essas referências estejam ausentes. Já com maior perplexidade se escute o silêncio da sociedade civil e dos atores culturais.
Talvez a expetativa de rapar o tacho do Fundo de 40 milhões para a cultura, que há dias foi anunciado, mobilize as expetativas do “setor” para minorar e remediar os efeitos da crise pandémica. Mas a perplexidade sobre a ausência dessa reflexão para o futuro comum não deixa de ser significativo dos impasses civilizacionais quer ora enfrentamos, nos quais sobressai a incapacidade das atuais organizações culturais e os seus profissionais de colocarem a dimensão social da cultura nas agendas política.
A atual crise pandémica, que no nosso país assume já a configuração duma tragédia (depois de á poucos meses se terem distribuído prémios a organizações que se destacavam no concurso “Portugal vence a COVID19”), é um bom exemplo da exiguidade da visão sobre as funções sociais da cultura. E se existe alguma coisa que é intrinsecamente europeia é a invenção da Cultura.
Claro que a cultura, enquanto manifestação do ato comunicativo e criativo acompanha desde sempre a humanidade. Contudo o fenómeno cultural, enquanto espaço de representação da vontade de futuro, universal e instrumento de emancipação e autonomia cidadã é um fenómeno europeu.
E seria por isso que ele deveria estar no centro da nova agenda social da política europeia.